
Foto: Agência ContilNet
Com o título "Estudo clínico
epidemiológico e genotipagem da Hepatite B e Delta em Sena Madureira", a
pesquisa de Alan Areal para a conclusão do curso de mestrado visa
entender por que a Hepatite B e Delta é tão mais agressiva que as
hepatites encontradas em outros locais do mundo.
A pesquisa de Areal está sendo realizada
em Sena Madureira, 2° município acriano com maior número de pacientes
vítimas de hepatites, no estado. Com um grupo de pesquisa formado por
aproximadamente 400 pacientes portadores do vírus da Hepatite B e Delta,
o trabalho de Areal findará com o encaminhamento de amostras para
Salvador e, posteriormente, Alemanha, onde será a realizada a
genotipagem dos vírus.
"Será um estudo inovador e que nos trará
dados importantes que nos ajudem a entender por que a Hepatite Delta da
Amazônia é tão mais agressiva que a hepatite Delta de outros lugares do
planeta", declara.
Disposto a entender o porquê da
agressividade do vírus que atinge a Amazônia, o médico e pesquisador diz
esperar contribuir de alguma forma para a amenização desta mazela que
tem feito muitas vítimas em solo acriano.
"É indiscutível que temos um tipo mais
agressivo. Temos garotos, adolescentes de 14, 15 anos, que chegam com o
fígado destruído pelo vírus. Ele já entra como candidatado ao
transplante de fígado", diz.
Aprovado em 2012, após concorrer com
candidatos de todo o Brasil, Allan Areal tornou-se um dos sete alunos do
curso de mestrado da Universidade de Brasília (UnB). Após a conclusão
dos créditos das disciplinas, ele agora está em campo, realizando a
pesquisa em questão.
"Tenho a honra de ter como orientador o
experiente médico e pesquisador João Barberino Santos e como coorientador o médico Raymundo Paraná, que há décadas pesquisam sobre o
assunto", declara.
O trabalho do médico acriano está sendo
realizado em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde, laboratório
central e Secretaria de Saúde de Sena Madureira.
"O estudo que estamos realizando sobre a
genotipagem dos vírus, que é realizado nesses pacientes com hepatite,
contribuirá enormemente na melhoria da vida dessas pessoas tão sofridas
devido aos efeitos severos decorrentes da ação viral, uma vez que os
vírus das hepatites são considerados os principais agentes das formas
graves de doença aguda e crônica de fígado", explica.
Natural do município de Sena Madureira,
Allan já trabalha na área de infectologia e tem se dedicado a entender
melhor a evolução e a causa das hepatites encontradas no Acre.
"Temos uma unidade que serve como referência no município: a unidade de saúde Carlos Afonso", afirma.
"Temos uma unidade que serve como referência no município: a unidade de saúde Carlos Afonso", afirma.

A
Hepatite D, ou Delta, é uma forma de hepatite viral causada pelo vírus
da Hepatite D (HDV), que sempre se manifesta na presença de outro tipo
de hepatite, a Hepatite B ou o vírus desta
Hepatite B e Delta em Sena Madureira: as doenças graves e silenciosas e o império do preconceito
Com uma população de cerca de 40 mil
habitantes, sendo que deste total 62% vivem na zona urbana, Sena
Madureira tem 400 pacientes diagnosticados com hepatites. Para o médico
Alan Areal, o que mais espanta neste elevado número é a demora no
diagnóstico e a falta de imunização.
"Ainda é baixo o número de pessoas que procuram para serem imunizadas, e isto é assustador diante de um quadro como este", diz.
Ao alto poder de destruição das doenças é somado o preconceito e a timidez que impedem as vítimas de buscar um diagnóstico.
De acordo com Alan Areal, a demora na busca do diagnóstico pode tornar mais difícil o tratamento da doença.
"É inaceitável que o preconceito queira
matar mais que a própria doença. Temos que trabalhar para que o
preconceito não atrapalhe no diagnóstico de qualquer pessoa enferma. As
pessoas precisam se conscientizar de que precisam procurar uma unidade
de saúde", declara.
A Organização Mundial Saúde (OMS) estima
que o vírus da Hepatite B tenha infectado mais de 350 milhões de
pessoas e que aproximadamente 600.000 morrem a cada ano, em consequência
da doença.
No Brasil, a prevalência é em torno de
2.6% da população, variando em algumas regiões. No estado do Acre, este
número é maior: varia de 3,3% a 5,5%, conforme a localidade.
"Podemos citar a experiência que tivemos
numa região do Purus, em Sena Madureira, em 2012, onde, in loco,
pudemos constatar que numa busca ativa na localidade rural São
Paulino, 50% dos testes rápidos que realizamos deram positivo para Hepatite B. Naquela ocasião, estiveram presentes as principais autoridades do Brasil e do mundo na área das hepatites. Isso é um exemplo que temos e que só reforça o tamanho do nosso desafio, dos cuidados que devemos ter e, principalmente, da importância que precisa ser dada a uma parcela da população que tanto vem sofrendo com os efeitos decorrentes de uma doença considerada negligenciada em nosso país".
Paulino, 50% dos testes rápidos que realizamos deram positivo para Hepatite B. Naquela ocasião, estiveram presentes as principais autoridades do Brasil e do mundo na área das hepatites. Isso é um exemplo que temos e que só reforça o tamanho do nosso desafio, dos cuidados que devemos ter e, principalmente, da importância que precisa ser dada a uma parcela da população que tanto vem sofrendo com os efeitos decorrentes de uma doença considerada negligenciada em nosso país".
Hepatite B e Delta
A Hepatite D, ou Delta, é uma forma de
hepatite viral causada pelo vírus da Hepatite D (HDV), que sempre se
manifesta na presença de outro tipo de hepatite, a Hepatite B ou o vírus
desta. O HDV é um pequeno vírus de RNA considerado como um vírus
sub-satélite porque somente se propaga na presença da Hepatite B. A
transmissão da Hepatite D pode ocorrer junto com o vírus da Hepatite B
(fala-se em co-infecção) ou, então, por uma simples infecção do vírus da
hepatite, mas, apenas em uma pessoa que já foi infectada pelo vírus da
Hepatite B. Você deve saber que, como a Hepatite B, a Hepatite D é
transmitida através do sangue (mesmo pequenos cortes são suficientes
para contaminar) ou através da relação sexual.
A Hepatite D é encontrada em algumas
aldeias indígenas da Amazônia, por exemplo, e em alguns estados do Norte
e Centro-Oeste do Brasil. Nessas regiões, se observa taxas muito
elevadas de pessoas com Hepatite B e, às vezes, também com Hepatite D.As
complicações da Hepatite D (e B, pois são sempre vistas juntas) são
mais graves que uma pessoa infectada somente com Hepatite B.
De fato, a Hepatite D acelera o
surgimento dos sintomas da Hepatite B, o que provoca mais rapidamente os
sintomas prejudiciais ao fígado, como a cirrose e a insuficiência
hepática. Em algumas aldeias da Amazônia, não é raro ver crianças de 13
anos com Hepatite D (e também com Hepatite B), apresentando sintomas
avançados de cirrose do fígado. A Hepatite D registra a maior taxa de
mortalidade: aproximadamente 20%.
Nenhum comentário:
Postar um comentário